sexta-feira

O dia em que eu entrei na fila

Surreal. Acordei às seis da manhã. Não acordava tão cedo desde que passei pra faculdade. Peguei um ônibus lotado. Em pé. Cheguei na fila. 174 pessoas já estavam lá na minha frente. Pra quê? Pra tirar o passaporte. Foi exatamente a pergunta que me fiz: "Tanta gente assim vai viajar pro exterior?". A resposta: "Aparentemente sim".
Aí, começou a malandragem. Gente alugando banquinhos de plástico, outros guardando lugar na fila, um cara que já tinha tirado o passaporte na semana passada contando suas experiências. De dois em dois minutos, eu pensava: "O que eu tô fazendo aqui?".
Peguei a senha. Um papelzinho, tipo sobra de papel jornal, com 175 escrito na frente e uma rúbrica atrás, que me dava o direito de ir pro trabalho e voltar lá mais tarde.
Fui. Voltei. Estava no 215. Uma hora depois, chegou no 230. Em três horas esperando, comecei a entender as coisas. O número de senhas distribuídas varia de acordo com o humor (ou a previsão astrológica, sei lá) do dia. Ontem, distribuíram 274. Em cada parede do prédio, tinha um papel ofício com uma informação diferente. Pra que escrever tudo numa folha só se você pode usar vinte folhas? Todo o comércio local sobrevive de xerox, fotografias e acesso à internet para quem vai tirar passaporte. Vão todos ter que se mudar pra perto do Galeão (se é que isso é possível) agora que vão transferir esse departamento pra lá. As pessoas não sabem ler e pedem informação pra qualquer um que encontram pela frente, menos para os que estão sentados bem embaixo da placa com a palavra "Informações". Ar condicionado não existe. Água, só se você comprar do lado de fora. Nenhum banheiro à vista. Se você quer viajar, você tem que querer muito, senão vai desistir no meio do caminho.
No final, nem era tão difícil assim: entreguei os documentos pro carinha lá e tenho que ir buscar meu passaporte no Galeão daqui há vinte dias.
Mas pra que facilitar, né?

P.S.: Na volta, a Radial Oeste tava engarrafada. Por causa do Fla-Flu.
P.P.S.: O texto do Rená está bom porque eu o revisei. Mas, Bernardo, pare de humilhar. Fiquei até com medo de escrever depois do seu post.
P.P.P.S.: Inveja enorme de quem consegue resolver as pendências do trabalho pelo celular no café da Travessa. Por aqui, ainda não chegamos na pós-modernidade.

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