domingo

Manual de Cinema

"Para fazer um filme basta uma rapariga e uma arma."
D.W. Griffith

quinta-feira

Rua da Vitória



o que se quer entender
é uma avenida que se chama liberdade.

praça da alegria, por ora não,
não sei
travessa da Glória
decido chegar à rua Áurea
que se brilho há,
deve ser perto
por ter de cruzar a rua da Vitória

continuemos então:
Áurea

chegamos ao Tejo
onde se vai para América
colocaram grades
não me deixam
ver:
se é para América
se é para voltar
Áurea
Vitória
Glória
Alegria
Liberdade
vejo novamente o Tejo - é longe -
onde se vai para a América
sem grades

segunda-feira

Aquele querido mês de agosto

Um olhar sobre um plano e o seu contracampo. O real e a ficção.

Escrevo sobre documentários e pássaros. Isto está lá no meu perfil. Nunca entendi bem o que isso quer dizer. Conta mesmo é que gosto de certa cinematografia do Real, não só ver, mas também no exercício de realizar. Então vamos falar de docs e pássaros.

Um filme Português



Aquele querido mês de agosto é um filme sobre a nostalgia a Agostinho – segundo o Priberam: são coisas que amadurecem em agosto – e que toma conta de Portugal. É o verdadeiro mês das férias por aqui. Muitos portugueses que moram em grandes cidades voltam para o interior, para rever a família e participar das festas religiosas e festivais de música.
A partir do material real, o cineasta parte para realizar uma ficção com os personagens que encontra pelo caminho. Pelo processo de realização, o que se dá a entender é que Miguel Gomes tinha pouco de concreto quando partiu. Acredito que tinha apenas a seguinte idéia:


Um triangulo amoroso nas férias de agosto e Pimba.

Pimba é uma espécie de forró de roça.
No primeiro ano de rodagem e diante de um material muito rico, Miguel resolve produzir o roteiro e encontrar o que precisa para fazer sua ficção. O seu filme –incluído na Quinzena dos Realizadores em Cannes 2008 – percorre um caminho que poucas vezes o cinema consegue acertar. Há uma linha muito tênue, entre o que se quer contar e o que está a passar em frente à câmera – o tal do Real. E é esse o centro de sua narrativa ficcional, e não há uma tentativa de encobrir os limites do Real, a partir da presença dos mecanismos de filmagem ele tenta transparecer todo o processo. Uma força que tenta o tempo todo atacar o próprio cinema, seja apenas mostrando os refletores, ou o grande “coelhão” – apelido que o filme dá para o microfone - invadindo o quadro.
E quando o Real não serve mais ao realizador é porque ele encontrou a saída. Entra uma questão muito interessante dentro do cinema do Real. O cineasta e sua equipe – pequena – estão no front de batalha, em busca das imagens do povo, a esperar a realidade, essa que fica sempre abalada pela presença da câmera de filmar. Mas se a história é do povo eu sigo com a seguinte reflexão:

“Para que o povo esteja presente nas telas, não basta que ele exista: é necessário que alguém faça os filmes. As imagens cinematográficas do povo não podem ser consideradas sua expressão, e sim a manifestação da relação que se estabelece nos filmes entre os cineastas e o povo. Essa relação não atua apenas na temática, mas também na linguagem”
Jean-Claude Bernardet – Cineastas e imagens do povo.


O mecanismo do cinema do Real que mais gosto é o de deixar-se passar pela realidade, deixar que o tempo passe, no tempo de quem está a contar a história, a festa e o povo. Acho que é por isso que gosto de documentários e pássaros e gosto mais ainda de um Pessoa que diria: Passa ave, passa, e ensina-me a passar!
Pois é difícil entrar no clima da rodagem, deixar-se transparecer por aquilo que se passa, pois logo depois vem a montagem e a coisa desanda. Quando Miguel deixa-se passar pela realidade está fazendo esse tipo de plano no cinema que gosto. A partir do meio do filme encontra sua ficção e começa a correr a frente da realidade. E cada plano “real”, segue-se um contracampo do mesmo. Esse contracampo é que é o encontro da ficção perto demais da realidade que passa.
Então temos um homem de frente pro Real e à frente do Real – de costas, é lógico, mais frágil e pronto a cair – Miguel não cai e realiza um belíssimo filme, um musical, um filme simples de amor, um filme simples sobre a realidade que passa e sobre os pobres mortais do cinema a correr com a câmera na mão.

Lembro de uma passagem interessante na rodagem de O som da Roda, o meu querido Doc. Depois de um dia inteiro de coisas boas, acreditávamos que o filme estava na mão. Agora poderíamos inventar moda e correr – literalmente à frente dos bois. Chegar antes e fazer o contracampo.
- Vamos lá! A gente espera, pois o sol está se pondo... A gente fica lá na frente até os bois passarem. E teremos o melhor plano do filme!

E a turma toda correu a espera dos bois. Mas meu amigo, quando o boi empaca já era. E antes de dois metros do plano ficar pronto a comitiva de mais de 50 bois pára. A luz acaba. É noite para a câmera. Nada de plano.

Em Aquele querido mês de agosto o cineasta português consegue isso em sua segunda longa-metragem, e nos mostra onde colocou o pé no Real e onde esperou pela ficção que surgiria brevemente em um agosto qualquer.
Coloco alguns trechos de Aquele querido mês de agosto. Não acredito que esse filme chegue ao Brasil. Quem sabe antes de voltar eu consiga uma cópia do filme e a gente assiste lá em casa!

Mas fica a pergunta: o que é um contracampo? Explicação simples eu não encontrei. Segue o que João Mario Grilo escreveu em “As lições do Cinema – Manual de Filmologia”

“O contracampo é nesse sentido, um fora de campo especial. Sendo o campo a porção de espaço fílmico incluído no enquadramento, o contracampo é uma porção de espaço equivalente, no mesmo lugar e na mesma ação, obtido pela rotação da câmera sobre seu eixo de, num ângulo aproximado aos 180º.”







domingo

Acabou o amor, isso aqui vai virar um inferno!

A turma ocupou a reitoria da Uerj. Estou longe do front, mas o que a turma pede são os 6% do orçamento. Só porque isso nunca foi cumprido. Nunca. É no mínimo justo.




sábado

E o filme acabou




Entregamos a cópia final (?), entregamos o DVD e a fita Digital. O filme estreou. Depois de tanto tempo a conviver com a história (minha também) que queria contar o filme chega ao Festival Brasileiro de Cinema Universitário e acabo de receber a confirmação para a 2a Mostra do Filme Ambiental e Etnográfico de Rio das Ostras .

Começamos com a seguinte ideia:

O som da Roda

“Deixa-te levar pela criança que foste.”

O Livro dos Conselhos


“Fujo da mera explicação jornalística: o quê? quando? onde? Vou atrás de uma festa que marcou minha infância. Com lembranças e imagens busco a explicação poética. É a festa de Carros de Boi que acontece em Raposo, distrito de Itaperuna.”


Não sei se cheguei perto dessas palavras, aos trancos e barrancos chegamos. Fico contente que chegamos.

Ao longo do caminho todo o tipo de imprevisto que só uma boa produção universitária pode ter: não há câmera, pede a da UFF; produz no intervalo do estágio e perde alguns fins de semana; pede apoio para os Hotéis da região, escuta algumas negativas pelo caminho; ganhamos um almoço – sem refrigerante pra ter o que reclamar; perde um celular e acha um celular...

Quanta coisa e andamos de carro de boi.

Saímos mesmo com a pauta definida, vamos atrás do Som da Roda. Sem saber muito bem o que isso seria. Depois de um dia não muito produtivo, estacionamos em frente a uma plantação de arroz – isso quer dizer que tem lama no meio.

- Não, não vamos não, isso é uma plantação de arroz e estamos atrás de carro de boi.

- Eu entendo, está irritado ou coisa assim. Eu vou assim mesmo.

- Você é muito teimoso e coisas mais que o valha. Espera que eu vou.

E a partir do simpático dialogo entre o fotógrafo e diretor impaciente encontramos o que significava o tal som da roda.

É a alegria do Carreiro! Disse com toda convicção e simplicidade o meu Carreiro Geovan

É por isso que eu sigo no DOC. Existe algo que não se explica lá no meio da plantação de arroz. Há de se entender que no meio da coisa pode haver lama, mas é normal. Chegamos ao filme. Chegamos a um lugar interessante: qual o próximo filme?

sexta-feira

Aula de cinema: não esqueça a secretária experiente!

A realização cinematográfica!

"Geralmente, a primeira equipa a ser contratada é composta por um produtor e um realizador, podendo ser adjudicado um director artístico no caso de longas metragens.
... seria aconselhável pedir ajuda a um bom director de produção, ou um produtor delegado, se o orçamento lho permitir.
Em qualquer caso, a equipa deverá contratar, logo na fase inicial, uma secretária experiente, para a dactilografia do guião, contactos telefónicos, correspondência, etc."

Directing Emotion pictures - Terence St. John Marner.

E assim a gente aprende a fazer bons filmes. Com bons manuais. Boa aparência e uma boa maquina de escrever.