segunda-feira

O cinema não coagula!

Sempre me pego as voltas de uma revista Caros amigos - de tempos idos - com o grande Henfil na capa. É de lá que vem a minha paixão por esse cartunista genial. Então fui assistir o documentário "Três irmãos de sangue" muito mais pra ver o Henfil. Fui pego de assalto pela força dos outros dois irmãos - histórias já conhecidas, mas a luta por liberdade em um país como esse nunca é de menos. Henfil diz no filme que preferia o cinema ao Cartum. Porque o cinema não coagula. Os segundos após a frase emocionam qualquer um. Mas e o documentário? Nem vou entrar no mérito de problemas óbvios. O filme vale. Então vá ver!
Eu venho falar do cinema. Do cinema no Brasil. Eu não agüento mais a petrolífera. Eu não agüento mais saber que quem decide o que vai ser feito no cinema são alguns figurões e suas canetas Montblanc. Basta! Como os paisanos da Zona Sul. Basta! Mas é um pouco isso mesmo. A coisa aqui tá ficando preta. "Então fale logo o motivo!" No Brasil, não existe cinema independente. Existe até um cinema de autor, pago pela petrolífera e algumas poucas outras empresas. E tudo com verba do cidadão.
Alguns vão gritar: isso é uma heresia! Não fale assim. Mas, sabe, eu não quero um cinema entregue ao mercado. Eu quero um cinema que tenha outras possibilidades de produção e distribuição. E quando vejo um Doc chapa branca desses em que o logo da petrolífera entra irritante no começo e entra, de forma mais irritante ainda, na orquestra Petrobrás, que aparece como uma passagem de bloco de um telejornal qualquer. Em todas as "mesinhas" onde o músico coloca sua partitura tem o maldito "BR". Cara de pau demais. BR, BR, BR, BR em tudo.
Isso parece que justifica a ausência de questões políticas importantes na vida desses irmãos do Brasil. Onde está o Lula? O PT? Não dá pra tirar esses assuntos. Lembro de um outro documentário sobre o Henfil em que o Lula fala: "Muito respeito com o que vocês vão falar do Henfil". E aí você paga o filme e tem que ver BR, BR, BR. É um saco e não há muita saída por enquanto, pois parece que está todo mundo adorando. Não dá pra ouvir as pessoas falando: ótima fase do cinema, cinema de retomada. Estamos presos aos petrodólares. Isso não é cinema. Cinema não coagula.

Rená Tardin

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