segunda-feira

Magritte

Homenagem

Eu quero essa árvore pra mim
assim
sem nada:
iluminada de sol
banhada de lua

Sintra is a Beautiful Place to Die



Ando por Sintra. Nem tenho mais ruas para dobrar. Ruas que não conheça de por menor. Ando por Sintra por uma força que não sei. Não era para andar em Sintra. Era pra ficar em casa e nada fazer até um sol virar lua. Era para dormir. No meio do caminho: um frio de cortar pedra. No meio do caminho: pedras a olhar montanha. Desde quando - fugitivo - do Brasil, Sintra me apetece, muito por conta de histórias dos outros em relação ao Glauber Rocha. Nunca vi rastro dele por aqui. Espero um dia assistir Diários de Sintra.
Ainda acredito que vou - outras vezes - ver, andar, café, pedras, ruas...
Bons autores quiseram Sintra. Byron. Nem mais uma citação, pois na labuta de ontem à noite estou com preguiça de catar canetas e papeis. Alguns quiseram morrer. Glauber Rocha.
Não quero morrer em Sintra. Há um sol diferente por aqui. Glauber chegou por aqui pela estação de trem "Grande Velocidade". E se esse lugar parou no tempo é porque se chega por aqui por outra dimensão. Alguma magia acontece. Quem chega na estação da Grande Velocidade tem que parar. Não há outro lugar no mundo para ir. É a ultima estação. Um pouco mais e... é o mar... e é a América...

quinta-feira

Rená Tardin no DocBlog!

In October, the whole World fits in Lisbon!


Esses dias espero trazer notícias sobre o cinema documental. O DocLisboa começa hoje (16/10) e já publiquei um texto mostrando as linhas gerais sobre o festival!
"Em Outubro, o mundo inteiro cabe em Lisboa" é o primeiro artigo no DocBlog do Carlos Alberto Mattos. Entrem e divulguem!
Doc Blog - Novas e boas sobre o documentário!

Black Bird

Black Bird

Roubado de http://euqueroapenasfalar.blogspot.com


Lonely. Apparently. Doing what? No idea. But, still singing. Flying. Jumping between the naked trees. Oh, there are naked streets also. Naked walks. People so dressed. Some cold. On the streets. In the faces. The tobacco is not enough to understand the movement. The calm. Here, at this town, the tobacco arrived for the first time in Europe. Now I’m smoking, like my ancestral. At least, half part of them. Again faces cold, closed. Maybe the cold from outside goes inside. Great ignorance!! What do I know? I’m cold also. Inside, outside, my feet, my hands, not my eyes. My heart, maybe. Someone called from a hot place. Another, from a snowing home. The calls said me that I’m not so cold. But cold, somehow. I know that I’m still alive. I could, I should, I would. Don’t like these mode verbs. They don’t express what is. They try to do what I want but, … Nice colour now, no dark, no clear. Almost gray. See some lights, growing while the darkness sky comes. The heaven is shinning, I dreamed something nice. Don’t remember. Was laughing when waked up. Good. Feel calm. The pipe was relaxing. Strange taste. Hot hands, now. Legs freezing. I could think about the sun at somewhere. Or, simply the smile more hot that I saw until today. Even the tears from her do my heart some comfort. God bless that smile. Someday I want to say again. Red eyes. Some water. But, not enough to leave the burden fall down. Thinking about mango. We had at our home. At the first, so sweet. At the other, more than one kind. More dark, now. Eyes looking the heaven. Seeing the control, the calm, the example. One year passed, I can’t remember the exact date. I don’t want. But, finally. I’m opening. I read some languages, I speak others, understand some eyes, some faces. The black bird went home, it is time to sleep.

quarta-feira

O bom ladrão

Um conto, é disso que chamo essas poucas palavras. Nem quero contar segredos de além, conto mesmo, neste conto o que se passa por ora aqui. Quem vos escreve é o ladrão. Para que sua identidade não venha ao mar de sentenças ainda não aplicadas. E para que isso seja algo realmente ficcional. Estamos a falar de um conto.
O fato é que ele roubava. Ou seria eu mesmo, já que sou o ladrão? Nunca fui entendido das gramáticas, mas trocar o pronome é arte das mais importantes.
Começou na sua juventude a desejar isso. Era tolhido pelos bons costumes visto que morava em uma vila no interior. Mas de certo que desejava. Atravessou continente, libertou-se de amarras leves e agora exercita diariamente o ofício. Era chegado à letras e roubou também o título do conto.
O bom ladrão é um romance de Fernando Sabino que nunca chegou a ler. Achava, ainda nesse tempo, que tinha que ler o livro desde o princípio, passando pelas partes medianas e seguindo assim até o país das maravilhas dos grandes letrados. Nunca passou da introdução.
Roubou – o título - na cara dura e o livro que era romance veio a virar conto. Cabe ao leitor vasculhar por ai, que deve encontrar outro conto, já que não se pode confiar em ladrões de cunho internacional.
Roubava isqueiros, fumava pouco e isso era algo que ele mesmo não entendia muito bem. Mas era articulado com as cores. Nacionalidades. Isqueiros internacionais. Não que guardasse ou coisa do tipo. Tinha certa tendência a perder o fruto do roubo. Isso mostra que nem o titulo do conto sabe muito bem roubar, não é tão bom em atributos tão nobres.
Roubava porque era sua única chance de encontrar os galãs de Hollywood da década de 30 e seus filmes negros. Roubava porque queria viver aqueles bandidos com suas raparigas de perucas baratas. Era tudo na vida uma tendência ao filme Noir. Dinheiro, assassinato e sexo barato.
Roubava isqueiros coloridos. Não era das amizades ricas, em que encontraria um exemplar prateado, como nos filmes que tanto sonhava. Roubava colorido a sonhar com uma vida em preto e branco. Sonhava com a amada e suas cigarrilhas. Nada disso tinha. Já disse que não era dotado de riquezas. Roubava. Isqueiros baratos-coloridos, justificava com filmes modernos de um cineasta que não gostava. Mas justificava. Há quem diga que ele proferia a torto e em directo que só o roubo é justificável. Roubava cada dia a mais.
Certo dia em festa de alto escalão, onde seus editores e futuros artistas do continente velho, todos eles a repetir coisas velhas de fumar, beber e falar da vida do próximo, ou apenas do cu da mulher do próximo, ele se viu tentado ao grande feito de sua vida. Nunca tinha visto com tamanha artimanha das facilidades um isqueiro barato-azul, por mesa de mesma cor e acompanhado da devida caixa de cigarros de duas letras de mesma cor - para que tudo rime e nada seja das grandes mentiras. Pensou em roubar. Conteve-se. Desejava. Paralisava. Cantava. Distraia os amigos. Roubaria.

- Preciso de um isqueiro - gritava o editor.

Ao pé do ouvido de seu fiel interlocutor para assuntos literários, o bom ladrão disse: tem um ali.

- E de quem é?

- Não sei, não sei mesmo.

- Parou de roubar?


Na negativa triste da cabeça, fez com que o editor prolongasse o assunto, mesmo com a pressa de acender as velas para o cumprir de anos de um dos artistas de tão nobre salão.
Tudo parou, claro que só os dois pararam por tanto tempo em um por menor desses. o resto bailava, e eram ondas de danças que faziam gestos ao pobre do isqueiro solitário.

- Nunca roubei de quem não conheço.


Com tamanha poesia, daquela afirmação triste, que impedia nosso artista maior de movimentar-se como a dança que passava de nacionalidade a nacionalidade. A coisa toda voltou ao normal. Parado ficado. O editor, sua pressa tradicional e capacidade para o mundo dos negócios das letras sentenciou, depois de pegar o isqueiro para rápido uso: gostei disso. Escreve um conto que publico na mesma e na hora!

Ruas pelo Mundo - Lisboa



A voz do operário fica numa ladeira.
Por onde anda a voz do operário?