quinta-feira

Passeio no inferno

"Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira. Mas, ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhei para cima e vi aquela ladeira coberta com os primeiros raios do sol. A cena trouxe luz à minha vida, afastou de vez o medo e me deu novas esperanças. Decidi então subir aquele monte. Olhei para trás uma última vez, para aquela selva que nunca deixara uma alma viva escapar, descansei um pouco, e depois, iniciei a escalada"

A definição de Dante Alighieri ao chegar ao primeiro círculo do inferno se encaixaria bem à Rua Manoel Vieira, próximo à selva de pedra do Centro de Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio de Janeiro. Ao invés de encontrar Vírgilio, que poderia nos conduzir na empreitada infernal, avistei uma série de camisas pretas aglomeradas num bar ao pé da íngreme ladeira. Além das vestimentas negras, acessórios pontiagudos, coturnos e toucas contrastavam com o calor abafado de 40ºC. Só faltou o enxofre.

O objetivo de tal empreitada era claro, apesar da predominância do preto. Cerca de 400 pessoas estiveram no primeiro show da banda mexicana Brujeria feito em terras fluminenses. Como em todo bom show de metal, os 'cabrones' do thrash metal não tocaram sozinhos. Cinco outros grupos, entre eles o recém-reunido Taurus, dividiram o palco a la baile funk instalado na quadra do Clube Recreativo Caxiense.

A cerveja era elemento essencial para contrabalancear o suor que aboletava-se pelos pescoços e peças de couro. O esforço físico também fazia-se necessário, já que o CRC ficava no topo de uma ladeira dantesca. Despido das vestimentas formais, os headbangers - eles odeiam serem chamados de 'metaleiros' - expunham tatuagens de diferentes tipos, tamanhos, desenhos e cores. Uns a ostentavam em locais pouco usuais, como o próprio rosto. O pentagrama invertido, que revelaria a verdadeira face do demônio Baphomet, estava entre o top ten das figuras mais tatuadas entre os presentes.

- Esse ano (2007) foi bom. Tivemos Napalm Death, Slayer e agora Brujeria. Gastei mo dinheirão, mas valeu a pena - recordava um banger, camisa dos alemães do Mötorhead, em meio a uma roda de amigos. Apenas um vestia blusa amarela.

Seis cervejas depois, o desafio de, finalmente, encarar a ladeira rumo ao clube. No caminho, o entreouvido da conversa três jovens com piercings, cabelos presos num rabo e cinto de tachinhas, destoou do figurino que portavam:

- E aí? Vamos virar punks?

Esses poderiam ser encaixados na definição de 'falsos'. Eles seriam os que não abraçam o metal como a única lei, e sucumbem aos apelos do canto da sereia pop. Contra isso, estão os 'trues'. O grupo está sempre a postos para atacar, de forma quase inquisitória, os falsos em todas as suas vertentes. Um dos principais lemas é: "True não toma mel, come a abelha". Os ogros do inferno, sem menor sombra de dúvida.

Uma parede descascada em aspecto decadente indicava o clube. Mais do que isso, já chamava atenção desde o meio do caminho os riffs pesados de guitarra e o rufar dos pedais duplos da terceira banda que se apresentava naquela tarde quente de domingo. R$ 30, a entrada - um bilhete dourado com os nomes dos grupos que se apresentariam por ali.

Lá dentro, uma multidão já transitava pelas dependências do clube abertas ao público de preto. Próximo ao bar e a entrada da quadra enfileiravam-se uma série de mesinhas de plástico com CDs, vinis e DVDs raros das mais variadas bandas de metal, acessórios dos mais cavernosos como pulseiras de spike, cordões de caveira e até coleiras. As camisas pretas de banda, não poderiam deixar de figurar entre os produtos vendidos. Eram centenas delas.

Além de cerveja, o calor também era aplainado com o consumo largo de maconha. Os headbangers de hoje não tem mais preconceitos com aquela que seria "droga de hippies". Alguns, de tão exaltados, sugeriam que tivessem tomado sintéticos. Mas não havia nada que comprovasse, além do suor em cascata e os litros de água bebidos.

- A próxima atração já está saindo do hotel - informou o apresentador do evento, em referência ao Brujeria, por volta das 22h.

A chegada da noite não trouxe clima mais lúgubre. Do contrário, até melhorou o clima. O show mais aguardado estava para começar. Bastaram os primeiros acordes para a platéia vir abaixo, ou melhor, iniciar uma roda.

As rodas são um fenômeno social digno de estudo aprofundado. Como explicar um clarão que se forma em meio a multidão, com homens (e também algumas mulheres) dando socos, tapas e rasteiras uns nos outros? E ainda saem felizes da experiência, relegada pelos círculos antropológicos.

Muita porradaria depois, já no bis, apelado aos gritos de "Brujeria!", um incidente: algum incauto rouba o chapéu de cowboy do baixista e ele recusa-se a retomar o show sem o acessório. Muitos apelos, de todos os integrantes da banda, mais staff, mais presidente de fã clube e nada de chapéu. Os portões do Caxiense são cerrados e aqueles que planejavam ir embora mais cedo - já era 1h da manhã - são impedidos. Um princípio de confusão começa, mas logo é resolvido pela palavra. Afinal, briga só na roda porque os banguers são de paz.

Livre do brujeria, ainda pude escutar a música sendo reiniciada, talvez a última. A essa altura já estava descendo a ladeira do inferno ao purgatório, onde, de acordo com Dante Alighieri, "a alma humana se purifica, e se torna digna de elevar-se ao céu". Se estivesse em nossos tempos, o autor de "A Divina Comédia" estenderia, com certeza, a passagem pelo inferno por mais algumas páginas.

segunda-feira

UNIDADE HABITACIONAL AUTÔNOMA - 15/05/2072

Acordo. Com a mesma intenção de domingo. Para aumentar a segurança — desta infame construção repetitiva — uso minha vestimenta Plumbífera. Apenas para garantir. O mesmo elevador e seus botões laranja. A mesma pessoa, no mesmo horário, com a cara diferente e sem a cara de um vizinho irritante. Evito monossilábicos. Nem amanhã. Nem domingo. Na TeleTela um novo aviso: pedimos — ENCARECIDAMENTE — que os moradores não usem a janela para jogar as cinzas dos cigarros. Use preferencialmente o cinzeiro ou a lixeira do andar! Sempre achei que aqueles recados sonoro-visuais não iriam animar. Animo. Sinto que sou forte novamente. Minha roupa de chumbo anda sempre comigo.

Rená Tardin

quinta-feira

Eu quero o tempo das coisas

Eu quero o tempo das coisas
Como as coisas que acordei vendo
Não o meu tempo que irrespeita
O tempo que tenho no pulso

Eu quero o tempo da mesa.
Simples e com todo o tempo
Que não tem no pulso

Não quero o meu tempo assustado
Cansado
Um tanto quanto absurdado

Eu quero o tempo de lá
Que falta cá
Onde encontrei
Meu tempo de hoje

Eu quero o tempo da mesa.
O tempo da mesa

Rená Tardin

quarta-feira

cerveja, cigarro, café (e sal)

Enquanto todo mundo só fala sobre o "Tropa de Elite", eu ainda nem assiti. E, no meio de tanta coisa acontecendo, eu só parei pra pensar em... comida. Final de semana no spa dá nisso.
Primeiro, eu não fui pra um spa por, digamos, necessidade. Fui pra uma "imersão de formação continuada", que funcionou mais como uma integração. Segundo, eu, sinceramente, não achei que seria tão difícil sobreviver por lá. Afinal, eu gosto de legumes e verduras e até já pensei em virar vegetariana. Bem, mudei de idéia.
O grande problema da alimentação spaziana, pelo menos pra mim, era a falta de sal e de carboidratos. Como a pressão baixa e a falta de carboidratos já me acompanham diariamante, imagina tomando suco verde no café da manhã. E só isso até meio-dia!
Na verdade, acho que o "só isso" também era um problema. Como você faz aula de hidrocapoeira se ingeriu apenas 2 pedaços de manga e 2 pedaços de mamão?
Além disso, teve a perseguição óbvia do cozinheiro com a minha pessoa: canela, azeitona e banana pra tudo quanto é lado! Prova de que os higienistas (pessoas que se alimentam segundo os princípios do higienismo, quer dizer, pessoas que não são felizes) não gostam de mim. Então, por que diabos eu tenho que gostar deles?
[nota: Tá, eu sou fresca. Mas não muito.]

Enfim, não gosto deles. Nem da comida deles. A alface e o tomate orgânico são ótimos (com azeite e sal, coisas que também não existiam no spa), mas quando eles decidem "cozinhar" as coisas é que começam os problemas.
Moral da história: tomei uma coca zero e comi um queijo quente (com queijo minas, bem saudável) e a dor de cabeça, companheira das 48 horas de spa, passou. Viva o sal! Viva a cafeína! E tudo mais que é imoral, ilegal e engorda.

O destaque do dia

Parem as rotativas internéticas! Esqueçam Renan, Tropa de Elite e Birmânia. A notícia mais importante do dia chegou até mim por e-mail. Merece destaque neste blog:

"A atriz Giselle Itié está internada no Hospital Barra D'Or, com traumatismos craniano e facial, em conseqüência de uma queda que sofreu durante ensaio para a Dança dos Famosos, quadro do programa Faustão no qual os participantes dançam enquanto patinam no gelo. Ela deu entrada no hospital às 22h45min de ontem (terça-feira, 2/10) e logo foi submetida a exames de tomografia computadorizada. A princípio,nenhum dos traumas exigirá intervenção cirúrgica, segundo a diretora médica, Martha Savedra, mas o trauma craniano obrigará Giselle Itié ficar internada no Centro de Tratamento Intensivo durante pelo menos as próximas 24 horas, para observação. Ainda não há previsão de alta.

Giselle fará ainda hoje (quarta-feira) nova tomografia computadorizada para avaliação do trauma craniano e será submetida a tratamento conservador, ou seja, com antiinflamatórios e analgésicos. Em conseqüência do trauma de malar esquerdo ela ficará com uma região da face arroxeada, bem como impedida de mastigar nos próximos dias, só podendo se alimentar com líquidos.

Giselle Itié nasceu na cidade do México, em 3 de outubro de 1981, mas viveu quase a vida toda no Rio de Janeiro e já participou de váriosprogramas e novelas da TV Globo."

terça-feira

1 Real dá pra muita coisa.

Bala Haaalllssss !! "É duas por 1 Real !!";
Paçoquita, 10 por 1 real;
Barra de Hersheys, 1 real;
Mais uma penca de tralhas e coisas que a gente nunca usa, 1 real;

Passar no Centro do Rio sem gastar 1 real...

Impossível !

14h32 - 14h33

Radial Oeste: 14h32 - 14h33

Todos os minutos de uma avenida

Radial Oeste 14h32 - 14h33
Todos os minutos de uma avenida.
É preciso contar a história das coisas não contadas.
Todos os minutos de uma avenida qualquer.
Teremos um dia inteiro de uma avenida com essa soma surreal?
Faça o seu minuto.

14h32 - 14h33

Todos os minutos de uma avenida.

sexta-feira

Na elite cinematográfica

Tropa de jurados do Minc renega sucesso de José Padilha e seleciona “O ano que meus pais saíram de férias” como representante brasileiro no Oscar 2008

Numa banca de camelô em frente ao Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Cultura no Rio, o filme de José Padilha “Tropa de Elite” é o mais procurado. Na mesinha improvisada pelo ambulante não há espaço para “O ano em que meus pais saíram de férias”, filme de Cao Hamburguer, lançado em 2006. Apesar de toda a polêmica envolvendo a trama dos policiais do Bope, o filme escolhido pelo júri para representar o Brasil na cerimônia do Oscar de 2008 é uma sensível história passada numa época dura para muitos brasileiros: o regime militar.

Enfileirados em cadeiras pretas a frente do gigantesco painel de Cândido Portinari que ornamenta a sala do segundo andar do prédio do MinC, os seis juízes pareciam enfastiados. Os cineastas Hector Babenco e Bruno Barreto; os críticos de cinema Rubens Ewald Filho e Leon Cakoff; e os jornalistas Ana Paula Sousa e Pedro Butcher justificaram sua decisão unânime por acreditar que “O ano...” tenha o perfil que agrada os olhos dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

A escolha foi feita a partir da análise de 18 filmes, entre eles “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, e “Saneamento Básico”, de Jorge Furtado, além do já citado “Tropa de Elite”. A escolha final, segundo o júri, ficou entre “Céu de Suely”, de Karim Aïnouz, e os filmes de Hamburguer e Padilha. Referendado o resultado, após uma manhã de discussões, o filme segue para o aval dos americanos, juntamente a outras 90 produções de todo o mundo. Os cinco filmes estrangeiros que disputarão a estatueta dourada só ficarão conhecidos em 22 de janeiro, no anúncio dos indicados ao Oscar.

– Precisamos deixar bem claro que não estamos escolhendo o filme do ano. Escolhemos a produção que irá representar o Brasil numa seleção internacional com prêmio americano. A meu ver, esse filme é o que mais se aproxima do padrão do Oscar. Gosto de “Tropa de Elite”, mas é uma produção que segue os padrões americanos – explicou Ewald Filho.

O diretor de “O ano que meus pais saíram de férias” foi o terceiro a saber que seu filme havia sido escolhido. Os primeiros foram os próprios membros do júri e, em segundo lugar, a imprensa, convocada às pressas para uma coletiva. Lembrado por um repórter durante a entrevista, o secretário de Audiovisual do MinC, Orlando Senna, pediu a uma assessora o telefone do cineasta.

– Parabéns! – exclamou Senna ao telefone, mesmo antes de dizer “alô”.

Premiado no Festival de Berlim, “O ano...” estreou em novembro de 2006. Desde então, foi exibido em mais de 20 países. O filme se passa durante a Copa do Mundo de 1970 e conta a história de um menino que é deixado pelos pais, perseguidos políticos, na casa do avô. O que era para ser apenas um mês de férias sem mãe nem pai, dura cerca de um ano. A produção é baseada na história do próprio diretor, filho de um casal de judeus militantes de esquerda e que foram perseguidos durante os anos de chumbo. Ao saber da indicação, Cao Hamburguer, não escondeu o entusiasmo.

– É um filme que vem realizando uma carreira muito sólida, não só no Brasil como também no exterior. Acho que esse binômio que opõe o tempo sombrio da ditadura com o brilho da seleção de 70 é uma metáfora de como a vida segue, com dias nublados e, de repente, um raio de sol. Essa dicotomia foi boa para armar a estrutura da história. Sinto que, para o brasileiro, essa foi uma época muito forte por conta de todos estes acontecimentos.

Ao saber que o filme mais vendido em sua banca na Rua Graça Aranha não será o provável representante do Brasil no Oscar, o camelô não se furtou:

– Se esse que ganhou for bom mesmo vai vender que nem este.

quarta-feira

Momento Tropa..

O que acham do RadialOeste entrar em uma discussão sobre as proporções que o filme tomou ??
Tem temas polêmicos em jogo:
* violência
* corrupção
* Drogas

Fica aí a sugestão..

"Tropa de Elite". A novela continua...

É impossível não falar de “Tropa de Elite”. O excelente texto do companheiro abaixo retrata em linhas o discurso do filme. Também me senti tentado em assistir a versão pirata e tive a oportunidade de vê-lo também, na versão original, na abertura do Festival do Rio. O filme passou por algumas mudanças, sim, mas a maioria diz respeito à estética e edição.

Mas o que importa não é se o final é o mesmo, ou se ainda tem a cena do “cabo de vassoura” – o que me assusta é que com o filme o BOPE ficou protegido pela própria sociedade. Licença para matar. As capas de jornais estampam diariamente as ações dos “06” e dos ”02” da vida real, deixando no chão uma comunidade indefesa, que além de sofrer com ações de traficantes, sofre de preconceito e de uma vida de pobreza, bem em frente à zona sul. E nada acontece. Já vi gente comemorando uma subida do Caveirão no Complexo.

Sou contra a pirataria, mas a distribuição do filme tomou proporções tão grandes que me fez pensar. Será que se não fosse essa feeebre pelo o que vazou do filme, tanta gente ia assistir? O “Tropa de Elite” ia chegar aos morros? Todas aquelas pessoas, que moram em comunidades, e que sofrem diretamente com a ação dos “caveiras” - viram o que o cinema quis mostrar da sua realidade. Eles puderam dar sua opinião sobre a situação. Acho que sem a pirataria esse filme não seria tão polemico.

Conheço muita gente que mora em favela e eles me afirmam, com toda certeza, que aquela não é a realidade. Que a coisa é muito pior do que está no filme. Que o BOPE, além de uma máquina de matar, também é uma polícia corrupta. Que os “homens-de-preto fazem coisas que assustam o satanás.” De uma forma boa ou ruim mais uma vez o cinema trouxe a reflexão para a sociedade. Não importa qual seja, mas todo mundo tem uma opinião sobre o filme e sobre a ação da polícia carioca.

domingo

Tropa de elite: licença para matar.

Depois de muito ouvir falar sobre o filme que retrata a realidade do Batalhão de Operações Especiais da PM-RJ, chegou em minhas mãos uma versão pirata do filme. Após refletir bastante sobre a possibilidade de assistir ou não, decidi ver, pois estava ansioso pelo filme que merecia o Oscar, segundo o comandante da polícia.

Desde o início, fica bem claro o seguinte: o Bope não está de brincadeira. Quando o Bope entra no morro é para deixar corpo no chão. O efetivo deste batalhão não rouba, não compactua com criminoso, apenas mata. O capitão Nascimento é cabra bom, honesto, pai de família, cheio dos problemas psicológicos. Quem imaginar que seja devido à quantidade de gente que ele mata por operação, engana-se. Suas questões internas devem-se apenas ao fato de trabalhar sempre ao lado da morte. Sabe obviamente que, a qualquer momento, pode ser ele o próximo. E, por conseguinte, seu filho recém-nascido pode ficar órfão.

O roteiro claramente foi escrito por alguém do Bope. A visão é de quem sobe o morro, e não de quem vive lá. A visão é de quem trabalha no batalhão e não de quem sofre as conseqüências e sustenta o trabalho sanguinário. No filme, morrem dois policiais e um fica ferido, e uns trinta traficantes são friamente executados. O comandante da PM afirmou que o filme é uma ficção, mas, neste ponto, aproxima-se bem da realidade das incursões da polícia (quem não se lembra dos números do Alemão ou da Vila Cruzeiro?).

De fato, o filme é um aviso para a classe média. O argumento: apertamos o gatilho, mas quem atira é você, viciado. A justificativa: o tráfico de drogas é fora da lei e essas pessoas têm armas, logo têm que morrer. O resultado: a polícia mais sanguinária do mundo, cujas vítimas são todas negras, moradoras de favela, pobres.

Este é o pacto que a sociedade carioca fez com seus pitbulls. Treinados para matar e não para estudar, atiram para manter a ordem. Na faculdade, o capitão Matias estuda Foucault, faz um trabalho sobre a obra Vigiar e Punir. Vê-se logo que não aprendeu nada do livro do grande mestre, e, nas próprias palavras do Nascimento, só se tornou policial quando esqueceu a Academia e se tornou um assassino. Mas não rouba, não tem esquema, não é corrupto... seu hobby preferido: subir na favela e deixar corpo no chão!


No própio filme, o capitão Nascimento afirma que estamos em guerra, mas não diz contra quem. Contra a favela? Contra o tráfico? Estamos pior do que numa situação de guerra. O Bope invade a favela sozinho, desrespeita qualquer tipo de lei marcial, de direitos humanos... A cidadania agoniza a cada vez que a" caveira" aparece.


segunda-feira

Transporte público alternativo

Tarifa: R$1.50
Daqui até ali: R$1.50
Até dois pontos: R$1.50
Daqui até o sinal: R$1.50
Daqui até o shopping: R$1.50


Carece de foto.
Carece de crônica.
50 anos de kombi no Brasil.

sexta-feira

Cartas em greve


Funcionária dos Correios lê durante o primeiro dia de paralisação dos carteiros, em Brasília. A greve começou nesta quinta-feira e tem a adesão de funcionários da ECT por todo país. Eles reivindicam melhores condições de trabalho. O serviço será prejudicado mas, se analisarmos mais de perto, não afetará essencialmente à população. Isso se deve à difusão do e-mail.

Se os tempos fossem outros, imagino, a greve dos Correios teria um grande impacto e seria discutido com mais afinco pela opinião pública. Antes da Internet, a carta era o meio de comunicação mais charmoso. O e-mail banalizou a comunicação por escrito. Além de banalizar, empobreceu a linguagem, já que trocentos e-mails podem ser enviados de hora em hora.

Logo, podemos concluir que, nos dias atuais, só uma greve dos servidores de IP pode atrapalhar a comunicação da pretensa era pós-moderna. A foto é da Agência Brasil.



quinta-feira

Entenda a novela Renan Calheiros


Renan Calheiros é um velhote que se acha inteiro e metido a esperto. Renan tem um caso com uma “jornalista gostosa”- até então desconhecida. A jornalista fica grávida “sem querer”. Renan assume a barriga dela. Mas ele é casado, tem um nome a zelar e precisa de sigilo. O sigilo chama-se: pensão. Mas Renan é senador, tem bons amigos. Um deles é lobista de uma empreiteira e decide ajudar. Mas o lobista não é nenhum bobinho. Coloca a mesada junto com pagamentos feitos pelo governo. Com o aumento do orçamento do governo, falta grana no congresso. Com a falta de grana criam-se novos impostos. Eu pago o imposto, você paga imposto e nenhum de nós “pega” a “jornalista gostosa”, que além de embolsar a mesada que veio do boi (senador), vai ganhar uma grana para ficar peladona.

Toda essa confusão cria um burburinho na imprensa e atiça a revolta dos populares. O caso vai para votação no plenário do Senado. Será que os lacaios senadores vão cassar o senador-mor? Talvez. Surge uma nova esperança de melhoria na política nacional. Mas não passa de sonho e fé. A votação é supersecreta. Deputados – preocupados com o futuro da nação (risos)– tentam entrar no congresso para assistir o “espetáculo”, mas são barrados e saem no tapa com os seguranças.

Renan é absolvido e diz que sua inocência foi uma “vitória da democracia”. Os brasileiros mais uma vez se ferraram e até agora nenhum de nós “pegou” a “jornalista gostosa”. Já que tudo acabou novamente em pizza, não seria a hora do povo mostrar seu poder, ir para as ruas com a cara pintada e dizer um basta para toda essa roubalheira?! Não...! Isso não importa, dá muito trabalho. O que interessa mesmo que essa semana vamos ficar sabendo quem matou a gêmea má na trama das oito.

* (A IMAGEM É CAPA DO JORNAL O DIA DE 17/09/2007)

terça-feira

Por um manual de redação neste blog

Como toda boa fonte de informação que se preze, o Radial Oeste deve ganhar um manual de redação e estilo. É importante definir, em linhas gerais, o que deve - ou não - ser publicado neste espaço. Afinal, não é só porque estamos na Internet que devemos baixar o nível.

Seria até uma novidade lançar um manual de redação para um blog ou site noticioso se o IG não tivesse publicado o seu nesta segunda-feira. De acordo com o blog do ombudsman do site, Mario Vitor Santos, o manual - destinado ao site Último Segundo - é uma iniciativa importante para aprimorar a qualidade da informação.

Pois bem, esse blog não pode ficar na contramão do último grito da internet: a padronização da escrita. De agora em diante, as vírgulas devem vir nos lugares corretos, assim como os erros de concordância serão combatidos com afinco. Palavras feiosas, ao ver do autor da "bíblia" do blog, serão sumariamente rejeitadas. Caso insistam em aparecer, podem ser levadas a julgamento e posterior expulsão desta página.

Não é admissível que uma publicação que tenta angariar o respeito da opinião pública seja marcada pela desordem gramatical e ética. O pequeno livrinho - que, por mim, poderia ter a capa vermelha - deve repousar ao lado das cabeceiras de cada um dos colaboradores desta página. Troque seus finais de semana por fins de semana e sejam mais felizes. Para que escrever em um mau blog se você pode contribuir num bom blog?

Com a ordem, o paradigma e a padronização, o leitor agradece.

segunda-feira

Geração Copy Cola

A Internet tomou conta do mundo. É hipocrisia afirmar isso? Talvez sim. Mas atualmente é difícil você conhecer alguém que não tem e-mail ou nunca riu dos vídeos do youtube. É impossível negar que a “grande rede” mudou nossas vidas. Atualmente tudo pode ser feito pela internet, isso nos ajuda por um lado e atrapalha por outro. Será que estamos ficando mais burros com ela? Ou não estamos sabendo usá-la? Essa semana tive em mãos dois trabalhos acadêmicos feitos por grupos diferentes. Para minha surpresa (ou não) os dois eram exatamente iguais. Puts, os caras não tiveram o trabalho nem de mudar o título. O fácil acesso e a comodidade levaram a criação de uma nova geração, a geração Copy Cola. Geração essa que por ter o mundo na tela do seu computador, acha que é dono dele. Um trabalho escolar, que era atividade árdua do dia-dia dos alunos ficou resumida em apenas dois comandos: Ctrl-C e Ctrl V.

O que fazer os professores diante desse problema? Alguns não ligam, outros voltaram às antigas e exigem o trabalho redigido a caneta (o que na minha opinião é tortura), a verdade é que os próprios adeptos dessa geração que cada dia que passa vai conquistando mais membros, mesmo achando que não, são os mais vulneráveis nesta história. Ás vezes nem lembra de como é excitante viajar nas páginas de um livro, ou mesmo do prazer de fazer um simples recorte de jornal ou revista. Vai muito mais do que isso. Apenas o fato de eles concluírem um “bom trabalho”, feito pela internet, não quer dizer que eles chegarão a ser bons profissionais.

Enfim, todos estamos propícios a esse vício. Vale lembrar de suas conseqüências. Mais o importante mesmo é usar os benefícios que a Internet nos proporciona, não apenas usá-la como forma ilusória para um caminho mais rápido ao sucesso. E se o gênio / popstar Renato Russo estivesse vivo? Será que ele cantaria esse refrão?

“Somos os filhos da revolução; Somos burgueses sem religiãoSomos o futuro da nação:
Geração Copy-Cola, Geração Copy-Cola”

quinta-feira

Os bastidores da notícia

A notícia:

Incêndio destrói loja na Tijuca

Um incêndio destruiu uma loja de utensílios para o lar na Praça Saens Peña, na Tijuca, zona norte, na noite de ontem. O fogo começou por volta das 21h, e bombeiros de cinco quartéis levaram cerca de três horas para controlá-lo. As causas do incidente ainda são desconhecidas, mas suspeita-se de um curto circuito. As chamas teriam começado no estoque da loja que fica no segundo andar do prédio.

Moradores de uma vila que fica atrás da loja tiveram que abandonar suas casas. Três mulheres, entre elas uma idosa de 94 anos, passaram mal, foram atendidas no local e liberadas. Um morador da Vila do Dragão disse que tentou impedir que o fogo avançasse sobre as casas utilizando uma mangueira.

- A janela onde molhei esteve bem perto de pegar fogo - afirmou.

O proprietário da loja, Enéas Freire, de 56 anos, chegou ao local cerca de meia hora após o início do incêndio. Acompanhado da mulher e dos filhos, ele disse que a loja não tinha seguro. A inspeção para risco de incêndio foi feita no estabelecimento há dois meses.

- Tenho essa loja há sete anos. Agora é reconstruir e voltar a trabalhar - disse, resignado.

A preocupação dos bombeiros, que contaram com a auxílio de sete caminhões-pipa, era evitar que o fogo se alastrasse para outras lojas e casas do entorno. Dona de uma casa colada à loja incendiada, Sônia Schaifer estava aflita:

- Ninguém mora lá, mas a casa está toda mobiliada. É uma sensação de impotência.



O bastidor:

Ontem estava conversando com a minha mãe na sala de casa quando ela avistou pela janela uma nuvem de fumaça vinda da Praça Saens Peña. Me deu vontade de ir lá, e eu fui. De bloco e caneta em punho, desci a Conde de Bonfim, seguindo o rastro da fumaça.

Logo no início da praça já podia ver o incêndio na Loja Bandeirantes, que fica no número 13, perto da entrada do metrô. Fui o primeiro repórter a chegar lá - e olha que nem sou formado. Após conferir algumas informações preliminares com a polícia e os bombeiros, liguei pra redação. O lugar estava isolado, o acesso restrito às equipes de salvamento, polícia e imprensa.

Pouco depois chegam os primeiros coleguinhas, depois outros e mais outros, inclusive do jornal. A falta de vítimas fez com que muitos começassem a desejar ir embora, muitos alegavam que a história não renderia mais do que um colunão.

Uma hora, refestelados na escada do metrô e no entorno, ouvimos um chamado da multidão:

"Moço, dá pra chegar um pouquinho mais pra lá, tá estragando a foto!"

Era uma mulher com uma touca do Flamengo e câmera digital em posição de disparar. Constrangido e surpreso, dei dois passos pro lado, ganhando a simpatia da proto-fotógrafa.

"Depois a gente que é chamado de urubu", reclamou um fotógrafo, este devidamente credenciado.

Aí que fui reparar na turba ao redor. Todos apontavam celulares, máquinas, I Pods e bugigangas mil para o incêndio. Um dos "curiosos" se apresentou a mim como estudante de jornalismo da Estácio: queria me vender as fotos que tirou no seu celular. Mal sabia que eu sou o elo mais fraco da cadeia.

Horas de fogo intenso depois, tiros do outro lado da praça. Equipes remanescentes correm para lá. Ensaio uma corridinha em direção à confusão. Briga de torcida. Rubro-negros reclamando que homens do Core teriam atirado na sua direção.

Não valia a pena, no máximo um colunão. Voltei pra casa.

quarta-feira

Intenção de domingo

Acordo. Com uma leve intenção de domingo. "Tudo deve estar suspenso". As janelas fechadas confirmam a segunda sentença. Intenção de domingo. Levanto. Arrumo a cara no lugar correto. Nem tomo café. Sei que terei silêncio pelas ruas. Elevador. Tudo ainda no ar. Mais um dia? O porteiro é gentil como de costume e fala do dia de forma rápida: – Bom dia. Tudo leve. No corte que me sobra da rua que vejo – não há carros – silêncio. A porta se abre. Ainda é silencio. Um labrador. Na verdade, não sei se era mesmo. O que vi foi um cão. Intenção de domingo. Dou mais um passo. Ledo engano. O verde do sinal insiste em trazer más noticias – a manada está solta, carros, gente, ônibus e buzina e buzina. Foi-se a intenção. É quinta.
Rená Tardin.

segunda-feira

A mulher e a estátua

Resolvi escrever para esse blog também. Faz um tempo – mas não muito – recebi um convite: Faça parte da nossa equipe! Achei esquisito, procurei saber se pagavam bem, se a equipe era legal, e se o espaço era regularmente utilizado por um bom debate. Tudo que encontrei foi um não paras as mesmas questões. Não há debate – todos não gostam do Jabor, por exemplo. Não se paga nada, e, ainda por cima, os “cronistas” são um grupo de pseudo-intelectuais-de-esquerda-cult-bacaninha-que-curte-falar-mal-da-veja. (Por isso que eu gosto da língua alemã. Não acho bonita, mas é funcional. Com certeza teriam uma só palavra para isso, apesar de desconfiar de que os alemães correrem maior risco de ter câncer de laringe.)

Enfim, resolvi colaborar. Tanto escrevendo como seqüestrando o Jabor.

Em Copacabana. Deveria ser aproximadamente o pico do horário do caos. Ou seja, de 10 às 19 horas. Para facilitar na visualização do leitor mais exigente, adianto que o astro-rei fervia a todo vapor. De dentro do ônibus, derretendo, não era possível conciliar com os 39 graus do termômetro de perto da Figueiredo de Magalhães. Ou seja, uma aprazível tarde de inverno no Rio. Tento me entreter com alguma coisa que não exigisse muito de minha mente escaldada, até que avisto uma estátua humana. Por quinze minutos pude servir como testemunha ocular que aquele homem não se mexia e tinha uma respiração quase que imperceptível. O figurino estava completo: prateado da cabeça aos pés, incluindo lábios, lóbulos das orelhas, umbigo e pálpebras; braço direito erguido, mão levantada com os dedos levemente separados; e, para completar, um pombo feiqui na cabeça. Percebi a aproximação de uma provável moradora de rua pela qual meus olhos já tinham passado quando estava sentada próximo à estátua pedindo dinheiro.

(Aqui, concordo que o fato de um mendigo se aproximar não seja nada relevante, ainda mais se levado em conta for o local em que a cena se desdobra. Em Copacabana, a população de rua só não é maior que a de velhinhos, mas com certeza é o bairro da cidade onde tem mais mendigos da terceira idade. Enfim, inútil comentário.)

Ao relevante. A senhorita aproximava-se mais da estátua queixando-se de alguma coisa. Até que pude ouvir:

- Não dá pra tu ficar aí não! – exclamou, gesticulando de forma a remeter a uma idéia de fim de papo no Maracanã. Deu um curto intervalo para esperar alguma reação da estátua, quando sem sucesso voltou a repetir:

- Não dá pra tu ficar aí não, tá me ouvino?! Ou tu também não escuta? Olha pra mim que eu tô falando contigo, porra!

Uma velhinha que vinha passando parou, olhou a situação, mas como a estátua não executava movimento e nem ensaiava reação, não julgou a situação como de potencial entretenimento.

- Olha aqui, esse ponto aqui é meu. Eu sempre peço dinheiro aqui. Se tu quiser, vai ficar do lado do velhinho lá da praia... mas aqui não tá dano pá tu, não! Tu fica aí paradão, todo pintado, recebendo dinheiro sem fazer nada! O quê que tu faz? Os verme tinha que tirar tu também... Porra, tá roubando a minha grana, tirano meu lugar, ninguém nem olha mais meus dois meninu... Esse povo já faz de tudo para desviar o olho da gente e você ainda fica aí, todo pintado, querendo aparecer... Se quiser pedir dinheiro, mermão, desce dessa porra, tira a merda dessa tinta, e faz que nem todo mundo, estende a mão, diz que tá com fome, que precisa comprar remédio, sei lá... dá teu jeito!

O ônibus andou.

quinta-feira

Classe média

"Quem é o mais miserável ser da terra? É o ser da classe média. Porque o pobre, o excluído, o proletário, para o cristão ou para o revolucionário, é o sal da terra. A classe média é um zero absoluto, ninguém está interessado nela. É a mais importante das categorias, não pode mudar as cosias, não tem interesse histórico."

Eduardo Coutinho.
Nem carece de crônica.

terça-feira

O mercado está com 'sistema nervoso'

Os mercados andam nervosos. E não é porque deixaram de tomar seus florais de Bach. Tampouco porque faltaram mais uma sessão de análise e tiveram que pagar por ela. A tal crise que tem deixado operadores das bolsas do mundo todo enlouquecidos foi causada por uma alta no índice de inadimplência das hipotecas norte-americanas.

Fiquei bastante intrigado como um cara que deve alguns milhares de dólares do pagamento de sua casa no Iowa pode influenciar no que vamos jantar amanhã, aqui no Rio. Essa economia global tem cada vez mais se assemelhado a Teoria do Caos.

Não vou discorrrer sobre essa teoria, não sou nenhum físico, nem tenho tamanha pretensão. Recorro a uma frase do senso comum para sintetizar o que eu considero ser a famosa teoria: "Uma borboleta bate asas no lugar X e causa uma tempestade em Y".

Utilizei letras porque não me lembrava muito bem quais eram os lugares originais. Uma busca no Google não ajudou muito. Cada resultado deu um país diferente, da Guatemala à China, com um leve bater de asas no Texas que, segundo a frase professada, causaria uma tempestade na Amazônia. Dado o clima equatorial da floresta, devem ser muitas as borboletas que flanam pelos céus texanos.

Enfim, levando em conta a tal Teoria do Caos do senso comum, podemos perceber suas semelhanças com a atual crise global. Ao que parece, ela já está controlada. Mas eu fiquei tão feliz de ter entendido um fenômeno da economia contemporânea pela primeira vez que resolvi compartilhar no blog.


Tudo pode ter começado com um americano rosa e gordo e sua família - igualmente rosa e gorda - que decidiu comprar uma casa. O americano rosa e gordo - vamos chamá-lo de John - não tinha economias suficientes e seu nome já constava do SPC Yankee há um bom tempo. Mas John não agüentava mais viver de aluguel, queria uma casa com jardim verdejante e cercas brancas.

John então pega um empréstimo de alto risco, oferecido por financeiras que aproveitavam os baixos juros praticados pelo Federal Reserve (o Banco Central de lá). Enfim, a casa própria. No entanto, uma série de cláusulas leoninas nas letras miúdas do contrato, como a possibilidade de juros e taxas serem pós-fixadas, endividaram John ainda mais. A alta dos juros americanos, de 1% para cerca de 6%, completou o cenário de dívidas e estourou a bolha imobiliária.

As tais financeiras que surfavam na onda das ótimas avaliações feitas pelas agências de risco (as mesmas que emitem o descalabro chamado 'Risco-Brasil') quebraram. Suas ações, confortavelmente instaladas em países emergentes pelo dinheiro farto e fácil, viraram pó num único dia. Estas mesmas ações sustentavam grande parte dos volumes negociados em bolsas do mundo todo. Resultado: todo mundo pro buraco!

No Brasil não foi diferente. A Bovespa chegou a cair 7%. Todo mundo desesperado e o governo se apressando em explicar que a economia brasileira conseguiria suportar a crise. No fim das contas, a coisa não fedeu em cima da patuléia, parafraseando Elio Gaspari.

Trilhões de dólares depois, parece que a crise foi aplainada. Mas John ainda está sem grana para pagar a hipoteca. Aguardem o próximo ataque histérico dos mercados.

Vamos seqüestrar um cronista

Resolvi - como diretor oficial desse blog anárquico - seqüestrar um cronista para integrar nosso plantel. (Falava plantel nos tempos que eu sabia algo de futebol, principalmente futebol de roça, futebol de várzea, sabia algo sobre o Vasco e adorava quando o flamengo perdia – não consigo explicar isso.) Seqüestraríamos um cronista para dar um Upgrade em nosso blog. Falo Upgrade a torto e a direito em tempos futurísticos, onde pessoas precisam estar sempre atualizadas, integradas, com o cartão de crédito no vermelho para comprar um novo computador. Nossa equipe - estranha equipe - precisa de um cronista de peso. Resolvi, em comum acordo com os outros integrantes, seqüestrar o João Paulo Vieira Machado de Cuenca, que escreve - ora, vocês sabem onde.
Estou refazendo os planos e analisando seus percursos favoritos. Por onde ele anda antes de escrever uma crônica. Ou se anda pouco e mente muito. Não importa. Temos boas pistas em suas crônicas. João do Rio ficaria orgulhoso ao saber que ele integra nosso plantel.
Numa artimanha de bom seqüestrador, procurei o endereço exato dele na telelistas e no google também, para evitar respostas equivocadas. Na verdade, eu não quero sair por aí para investigar a vida dele. Como bom cronista, está tudo lá. É tudo uma verdade embaralhada. Teríamos que vascular, cruzar informações, revisar crônicas antigas em outros veículos, googar (adorei essa palavra nova para essa vida de jornalista/cronista que levo ultimamente). Isso mesmo: vamos googar informações exatas sobre ele. Tudo articulado entre pessoas do blog e ninjas da internet. Seqüestradores de cronistas, uni-vos!

Mas por quê? Pelo Upgrade e pra melhorar o nosso plantel como já foi dito.
Mas, a bem da verdade, eu acho que podemos pedir um resgate da seguinte maneira: o Cuenca volta se ele integrar o time do segundo caderno. Não que eu ache que ele esteja em um lugar pior. Mas o segundo caderno do Globo está precisando de um U pgrade para melhorar o seu plantel. Não me atreverei a ofensas ácidas. Estou me formando e você sabe como é.
Tudo bem, só uma alfinetada: o Jabor em troca do Cuenca. Ele fica no segundo caderno às terças. O Jabor passará a integrar nosso plantel. Ele terá que escrever em uma maquina de escrever velha em nossa redação ensolarada, sem ar condicionado e repleto de livros marxistas, esquerdistas e bons filmes revolucionários. Enfim, ele terá que conviver com universitários seqüestradores de cronistas às vésperas da revolução. Seria um bom negócio. Vamos ao Cuenca. E de quebra a gente dá um sacode no Jabor.

Rená Tardin

Um P.S. sobre P.S.

Pois é. Eu tenho mania de P.S.. Quando isso começou? Não sei. Talvez seja genético.
Lembro que, quando era criança, via minhas tias escrevendo P.S. nos bilhetes e não entendia direito o que era. Aí, tive aula de latim (me sinto um dinossauro). Um dos trabalhos era sobre palavras em latim que ainda eram usadas. Ad eternum, in memoriam. Aí vem a minha mãe e diz: " P.S. Também é em latim". E ela estava certa (ela também é jurássica e também teve aula de latim).
Post Scriptum, ou P.S para os íntimos, é aquela coisa que você só lembra na hora que coloca o ponto final no texto: "Ih tinha que falar isso também, mas esqueci. Vou colocar no P.S.". Jurássicamente falando, quando não existia Word e "copiar e colar" demandava o uso de tesoura e cola, o P.S. era a salvação! Hoje temos mecanismos para disfarçar que algo foi escrito "após o escrito", mas imagine como isso devia ser um grande problema para quem usava latim!
Tem gente que acha o Bill Gates é um gênio, mas os romanos já tinha solucionado o problema de uma maneira bem mais simples. Além disso, acho que o P.S. tem um lado revolucionário: você pode mandar seu professor de redação do pré-vestibular catar coquinhos e escrever as coisas na ordem que você pensa! Afinal, se lembrar de algo importante, 2 letras, 2 pontos e voilá!
Descobri que sofria da síndrome do Post Scriptum quando escrevia no meu blog antigo. O P.S. se tornou um espaço para mandar recados para as outras meninas que também escreviam no blog, comentar algum texto postado antes, contar uma fofoca nada a ver ou descrever o tempo no Rio de Janeiro para matar as paulistas de inveja. Foi quando comecei a usar P.P.S., P.P.P.S. e assim sucessivamente.
Mais do que um artifício literário, acho q o P.S. é uma forma de pensar. Afinal, o que seria dos esquecidos, dos avessos a organizar as idéias antes de escrever e dos viciados em dar opinião sobre tudo sem ele?


(pra não perder o hábito) P.S.: Sobre o texto do Rená e o filme "Três irmãos de sangue": O filme é bom porque a história dos 3 irmãos é boa. Até se eu contasse, seria legal. Então, por que aquela divisão em blocos nada a ver? E pior: que fonte é aquela? Se é pra usar Times New Roman, use Verdana! Enfim, a história é tão boa que sobrevive à fonte tosca, à falta de depoimento de qualquer pessoa que seja do PT (a mulher do Henfil fala no filme que viu o PT surgir na mesa da sala dela e fica por isso), problemas nas imagens, o "BR" onipresente e a divisão em blocos.

segunda-feira

O cinema não coagula!

Sempre me pego as voltas de uma revista Caros amigos - de tempos idos - com o grande Henfil na capa. É de lá que vem a minha paixão por esse cartunista genial. Então fui assistir o documentário "Três irmãos de sangue" muito mais pra ver o Henfil. Fui pego de assalto pela força dos outros dois irmãos - histórias já conhecidas, mas a luta por liberdade em um país como esse nunca é de menos. Henfil diz no filme que preferia o cinema ao Cartum. Porque o cinema não coagula. Os segundos após a frase emocionam qualquer um. Mas e o documentário? Nem vou entrar no mérito de problemas óbvios. O filme vale. Então vá ver!
Eu venho falar do cinema. Do cinema no Brasil. Eu não agüento mais a petrolífera. Eu não agüento mais saber que quem decide o que vai ser feito no cinema são alguns figurões e suas canetas Montblanc. Basta! Como os paisanos da Zona Sul. Basta! Mas é um pouco isso mesmo. A coisa aqui tá ficando preta. "Então fale logo o motivo!" No Brasil, não existe cinema independente. Existe até um cinema de autor, pago pela petrolífera e algumas poucas outras empresas. E tudo com verba do cidadão.
Alguns vão gritar: isso é uma heresia! Não fale assim. Mas, sabe, eu não quero um cinema entregue ao mercado. Eu quero um cinema que tenha outras possibilidades de produção e distribuição. E quando vejo um Doc chapa branca desses em que o logo da petrolífera entra irritante no começo e entra, de forma mais irritante ainda, na orquestra Petrobrás, que aparece como uma passagem de bloco de um telejornal qualquer. Em todas as "mesinhas" onde o músico coloca sua partitura tem o maldito "BR". Cara de pau demais. BR, BR, BR, BR em tudo.
Isso parece que justifica a ausência de questões políticas importantes na vida desses irmãos do Brasil. Onde está o Lula? O PT? Não dá pra tirar esses assuntos. Lembro de um outro documentário sobre o Henfil em que o Lula fala: "Muito respeito com o que vocês vão falar do Henfil". E aí você paga o filme e tem que ver BR, BR, BR. É um saco e não há muita saída por enquanto, pois parece que está todo mundo adorando. Não dá pra ouvir as pessoas falando: ótima fase do cinema, cinema de retomada. Estamos presos aos petrodólares. Isso não é cinema. Cinema não coagula.

Rená Tardin

sexta-feira

O dia em que eu entrei na fila

Surreal. Acordei às seis da manhã. Não acordava tão cedo desde que passei pra faculdade. Peguei um ônibus lotado. Em pé. Cheguei na fila. 174 pessoas já estavam lá na minha frente. Pra quê? Pra tirar o passaporte. Foi exatamente a pergunta que me fiz: "Tanta gente assim vai viajar pro exterior?". A resposta: "Aparentemente sim".
Aí, começou a malandragem. Gente alugando banquinhos de plástico, outros guardando lugar na fila, um cara que já tinha tirado o passaporte na semana passada contando suas experiências. De dois em dois minutos, eu pensava: "O que eu tô fazendo aqui?".
Peguei a senha. Um papelzinho, tipo sobra de papel jornal, com 175 escrito na frente e uma rúbrica atrás, que me dava o direito de ir pro trabalho e voltar lá mais tarde.
Fui. Voltei. Estava no 215. Uma hora depois, chegou no 230. Em três horas esperando, comecei a entender as coisas. O número de senhas distribuídas varia de acordo com o humor (ou a previsão astrológica, sei lá) do dia. Ontem, distribuíram 274. Em cada parede do prédio, tinha um papel ofício com uma informação diferente. Pra que escrever tudo numa folha só se você pode usar vinte folhas? Todo o comércio local sobrevive de xerox, fotografias e acesso à internet para quem vai tirar passaporte. Vão todos ter que se mudar pra perto do Galeão (se é que isso é possível) agora que vão transferir esse departamento pra lá. As pessoas não sabem ler e pedem informação pra qualquer um que encontram pela frente, menos para os que estão sentados bem embaixo da placa com a palavra "Informações". Ar condicionado não existe. Água, só se você comprar do lado de fora. Nenhum banheiro à vista. Se você quer viajar, você tem que querer muito, senão vai desistir no meio do caminho.
No final, nem era tão difícil assim: entreguei os documentos pro carinha lá e tenho que ir buscar meu passaporte no Galeão daqui há vinte dias.
Mas pra que facilitar, né?

P.S.: Na volta, a Radial Oeste tava engarrafada. Por causa do Fla-Flu.
P.P.S.: O texto do Rená está bom porque eu o revisei. Mas, Bernardo, pare de humilhar. Fiquei até com medo de escrever depois do seu post.
P.P.P.S.: Inveja enorme de quem consegue resolver as pendências do trabalho pelo celular no café da Travessa. Por aqui, ainda não chegamos na pós-modernidade.

terça-feira

Via ápia

"O trânsito segue lento na Avenida Radial Oeste para quem segue sentido Centro. O panorama é o mesmo no sentido Maracanã. PMs fazem uma blitz na altura da estação de metrô de São Cristóvão, causando retenções ao longo da via"

Pode parecer um clichê - e é - mas a Radial Oeste é a síntese do Rio. Não aquela cidade idílica das novelas em horário nobre, mas a urbe real. A cidade do café com pão, do trem lotado, dos jornais em tamanho tablóide.

Ela começa numa extensão da avenida que leva o nome do pai dos pobres, Presidente Getúlio Vargas, ainda sob o aroma pouco agradável do Canal do Mangue. Um viaduto deságua na Praça da Bandeira. Ali, convivendo (quase) harmoniosamente, está a imponente bandeira da nossa república, a linha do trem e a zona de baixo meretrício mais famosa do Rio: a Vila Mimosa. Na hora do rush, vendedores pipocam por todos os lados, oferecendo toda a sorte de mercadorias - de tangerinas a flanelas - aos estressados motoristas.

Seguindo em frente, margeando a linha 2 do metrô, abrindo caminho sentido Zona Norte, o coração pulsante e marginalizado da ex-capital federal. O Maracanã se impõe sobre a margem esquerda, enquanto o Morro da Mangueira começa a despontar à direita, no horizonte.

Por ali, os sons são vários. Desde as reações audíveis das torcidas no estádio cheio em dia de jogo, até as estocadas secas produzidas pelos fuzis nas operações policiais na favela. O fantasma do Museu do Índio, hoje ocupado ilegalmente por famílias descendentes daqueles que, legalmente, ocupavam todo o território do Brasil, completa a paisagem.

A atmosfera concretista da Uerj também faz parte da Radial Oeste. Ninguém acredita quando fica sabendo que o arquiteto da universidade hoje é presidente de Furnas. A pergunta que ronda a mente é: como arquiteto seria ele um bom presidente de Furnas, ou vice-versa?

Independentemente da resposta, o que temos hoje é a universidade sucateada, vivendo da fama de intocável que as universidades públicas gozam até hoje. Resta saber até quando. Será que outro reboco cairá? Preparem as faixas "em estado de greve".

Na praça de vergonhoso nome Emilio Garrastazu Médici, vive uma família de moradores de rua. Anônimos e ambulantes para quem passa por ali. Motivo de protestos por toda a burguesia local.

"Eles são sujos, emporcalham a praça, assaltam os transeuntes, não se vestem bem, nem se envergonham de usar drogas ou fazer sexo na via pública", indigna-se uma senhora tipicamente tijucana, com seu poodle calçado e sua blusa comprada em Guarapari.

Com o início dos Jogos Pan-Americanos, todos sumiram. Para onde foram? Não se sabe ao certo. Mas não fez mal, pelo contrário, ajudou os índices de popularidade do governador e do prefeito. Mendigos não votam, tijucanos sim.

A Radial Oeste acaba ali, como numa confluência de rios. À noite, o fluxo de veículos nos faz lembrar um grande ribeirão a luz do luar. Uma forma de "fugere urben" em meio ao caos.

Na definição de Aurélio, Radial é aquilo que emite raios. Mas também pode ser definido prosaicamente como "rua que vai do centro à periferia urbana". Será que até Aurélio já passou por ali?

Docs In Rio ou o Super 8 vai salvar o mundo

Então, vamos a uma lista de documentários. Nada de crônicas, como é de praxe - mesmo que sem regularidade e visibilidade - adotando a onda de não às crônicas virtuais. Não gosto de escrever sobre cinema. Cinema é audiovisual. Vá lá e veja, acho que isso resolve. Muitos do que escrevem resenhas e críticas no jornalismo da grande imprensa fazem - só - com que os filmes não sejam vistos. Quando se fala de documentário é pior ainda - uma canetada de um maldito bonequinho põe tudo a perder. Tudo bem que se o Doc do Tendler não vingar vai passar no Futura mesmo.

E quem assiste documentários no Brasil? E quem paga os documentários do Brasil?

Vamos aos Docs:

Bobby
É suspeito escrever sobre esse filme. Não quero um presidente americano salvando o mundo. Mas as caras não têm mais saídas. O que dá pra esperar de um Bush? Tá fudendo todo mundo. Então, o cara constrói o mito de um quem-sabe-presidente - que morre, é lógico, é a saga dos Kennedys - a partir de imagens da época. Boby não aparece em momento algum do filme. Então, a trama vale cada caríssimo centavo. Pelas imagens documentais, pela trama bem construída e pelo LSD! Vida longa ao Super 8!

Person

O super 8 salva a vontade de fazer cinema. Marina – vida inteligente na MTV! - constrói o personagem do pai a partir de uma grande pesquisa, olhando pra si e pras lacunas que deixou seu pai – morto em um acidente de carro. Levanta um arquivo de imagens belíssimas e depoimentos que dão a real força que o cinema de Person teve. Lembro de assistir o filme com a presença da diretora em um festival de cinema universtitário. Não dá pra negar o carisma da Marina. E não dá pra negar que é um projeto de cinema - e um cinema do Brasil.

Fabricando Tom Zé

Nem precisa falar. É o Tom Zé. O grande trabalho fica pro diretor em conseguir montar um material infinito de forma atraente. E o super 8 salva tudo!

O último Bandoneón

Aqui tem um bom doc. Pela música argentina. Pelas imagens. Por construir a história de uma cultura musical a partir de um instrumento perdido no tempo. O doc-drama tem um tipo de problema-solução: salvar a história, juntar os elementos e, fazendo isso, é mais fácil o erro e a pieguice. Dane-se o erro. O diretor conseguiu achar a medida de atuação e documento. Vale. Mas não tem super 8!

O fim do sem fim

Fica pro fim. Pro fim de semana.

testando

batatinha qndo nasce...

segunda-feira

Mais do mesmo

É velho mas está pago!

terça-feira, 2 de novembro de 2004
Mais do mesmo

Ou a cidade ronca II

Não foi fácil começar a escrever. Parei, pensei e nada chega à superfície gelada do papel . Creio que para falar do que somos e, o que é essa nossa sociedade, seja sempre complicado.

Vacinados

Uma sociedade vacinada, petrificada, sem reação e em estado de letargia. Parada à frente da TV. Ou da mesma forma nas ruas. Se o caos é o que nos resta, quero ser então, Winston de George Orwell. Ele sabia, bem lá no fundo, da verdade; mas não pode fazer nada, porque era parte do caos. Mas respirava. Talvez a única saída.
Perdemos a capacidade de olhar. E se olhamos o que percebemos? Aos poucos as doses da vacina ( o veneno em doses pequenas, contínuas, às vezes inutilizado, morto...) Tv – e suas fabulosas miragens – jornais e cia... nos fortalecem. Estamos fortes, já resistimos a tudo.

“Fome: fila circular que só acaba quando o primeiro chegar”

A fome é só a fome e não importa. Importa mesmo são as bolinhas nas calçadas do Leblon, importa criar hospitais para tratar de homossexuais, que “querem a cura para sua doença”. E o resto, empurramos para os morros. Lá só há ronco – o ronco que essa cidade aprendeu a esquecer. E os hipócritas de plantão colam adesivos lindinhos em suas janelas (que encobrem os verdadeiros criadores do caos) o “BASTA!” da zona sul. É lindo “BASTA!” e pronto está tudo bem.

Poderíamos chorar

Chorando talvez estaríamos resistindo, como os que já choram desde o berço. Mas está tudo bem.

É preciso limpar a panela do pão de que nunca teve um

Cena para poucos: comprar frango assado em um domingo. Comprei. Esperei na fila. O funcionário cortava. Na bandeja os restos: gordura, osso picado, farelo de carne... Alguns garotos pedem os restinhos ao funcionário. “ Pode não é do moço aí”. Os restos. Era isso que eles queriam. Eu dei, primeira atitude, por mais ridícula que seja, queria dar mais. Não tive tempo. A fila era grande. Muitos vacinados ao redor. Só deu tempo de congelar, chocar, e ficar mudo ( por mais estranho que pareça talvez aqueles restos podem ser melhores que a ultima refeição deles). Quase fui apedrejado, na verdade fui. Gritaram “ isso é um absurdo”, “esses pivetes”, e o grande final : “ agora tem que limpar a bandeja”, “ limpa logo essa bandeja”.
Perdemos tudo. Perdemos o jogo. Mas a bandeja está limpa. E o ronco silenciado.

domingo

avenida.

Corta a cidade.
Corta a vida
Entre o dormir
E o trabalho
Tem nome de ditador.
Doce avenida.
Mudou de nome
A cidade vive.

sexta-feira

Radial Oeste

Radial Oeste