domingo

The spirit of Austria



Por aqui não é permitido vender Absinto. Num certo mercado negro você pode até encontrar, mas em pequenas embalagens. O grande barato aqui é essa simpática bebida de nome Stroh, que é a abreviação de um outro nome muito grande e muito complexo para esse humilde blogueiro. Nada mais nada menos do 80% de álcool. Vai encarar?
E para minha surpresa uma garrafinha de Pitu escondida no canto da loja. É isso, acho que é saudade do Brasil.

quarta-feira

Réveillon no Piscinão

A última chuva do ano durou cerca de vinte minutos no Piscinão de Ramos, na noite de 31 de dezembro. Mas as pessoas pareciam mais empolgadas com os shows de artistas populares - ou popularescos? - do que com as gotas que molhavam as roupas impecavelmente brancas. No entorno do lago artificial, cerca de 50 mil cabeças se aglomeraram.

Apesar da multidão, houve pouco trabalho para as autoridades. Acostumado a um cotidiano de violência, as redondezas do Piscinão, incrustado em meio ao Complexo da Maré, vivenciaram uma trégua para a chegada de 2009. O caso mais grave da noite deu-se por um bebum que perdeu o fôlego ao nadar de braçadas nas águas de Ramos. Ele foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, e já deve estar em casa, a essa altura do campeonato.

Com expectativa de superprodução, o Piscinão almejou equiparar-se a Copacabana. No entanto, os parcos fogos de artifício patrocinados pela Prefeitura (demissionária) do Rio reafirmou a nossa localização geográfica: do lado de lá da cidade partida. Das duas balsas propaladas, somente uma disparou o foguetório.

Próximo a uma farta ceia, o coordenador da Riotur no evento explicou, entre um gole de prosecco e outro, que os fogos foram concentrados em apenas uma balsa. O motivo? "Questões logísticas", respondeu, sem muita certeza. Faltou só combinar com o público.

A ausência de uma das balsas não comprometeu a farra. No entanto, houve quem desdenhasse. Moradora da Maré há 56 anos, a aposentada Antonia Maria Conceição, de 76, lembrou réveillons na saudosa - e outrora limpa - Praia de Ramos.

- Antes era bem melhor do que hoje. Comíamos manjar na areia. Mas agora está bom também - resignou-se.

"Rusticamente confortável" é a maneira como Lindoel Ferreira, de 37 anos, se referiu à última aquisição do ano. A barraca de quatro lugares que custou R$ 250 ao encarregado de expedição já abrigava a esposa Sara, de 33 anos, e as filhas Natalia e Rosane, 14 e 9 anos, respectivamente. Prevenido, Josiel disse que já sabia que ia chover no dia 31. Por isso, resolveu levantar acampamento nas areias do Piscinão.

- Trouxe uma garrafa de champagne que está na bolsa térmica, cheia de gelo - contou.

Era comum, ao transitar em meio ao público, ver uma grande quantidade de famílias que levaram assados, frutas e bebidas. Todos os itens mantinham-se bem arrumados em cima de uma daquelas mesas de armar. Aqueles que preferiram sentar nos quiosques do lago artificial consumiram, em grande parte, peixe frito e cerveja.

- O que está saindo mais é o peixe completo, que custa R$ 30, e o latão da Antartica, que é R$ 3. Investi R$ 5 mil em cerveja, e espero que o ano novo me dê retorno - pediu Heloísa Helena Teixeira, de 44 anos, dona do quiosque Quatro Estações.

A segurança foi o fiel da balança na hora de decidir para onde a família de Ângela Baldomeno iria passar a virada do ano. Em outros réveillons, Copacabana mantinha-se como a favorita. Mas a Princesinha do Mar perdeu a majestade para o primo pobre da Maré.

- Viemos de ônibus desde Magalhães Bastos, onde moramos. Foi rapidinho. Muito bom o réveillon daqui. Eu costumava passar em Copacabana, mas lá tem muita briga e confusão. Aqui me sinto mais segura - revelou ela, mesmo antes de saber que cinco pessoas tinham sido baleadas na festa da praia mais famosa da Zona Sul carioca.