Amanheci escritor. Quase poeta ao fim do café da manhã. Desisti por conta de umas dores no estômago que me acometem por esses dias. E não é fácil. Aos vinte e cinco anos, e com alguns meses que dediquei ao estudo dessa possibilidade, escrever para meus leitores a decisão. E não abane a cabeça - leitor cruel - não ria com essa boca de canto que eu conheço tão bem. Muitos ficariam horrorizados e reprovariam, mas algo acontece que não poderia deixar de tentar. O Saramago incansável continua. Por que não? Eu, pobre mortal, com algum rastro de pequena literatura, não poderia me dedicar ao ofício? Tão nobre. Decidi comprar então uma maquina de escrever já que o meu pedido de casa boa na beira do mar e um super computador, cheio de brilho e botões, foi claramente negado pelo meu editor. Compreendi que esse é tempo de crise e que não poderia exigir tamanha ousadia. Comprarei minha maquina de escrever. Quase que gostaria da verdadeira maquina de fala escreve, mas não vai ser possível. Tenho que avisar aos familiares e tenho que fazer um banquete comemorativo. Recebi hoje uma parte do ordenado que vai servir como incentivo para trabalho tão penoso que seguirá, espero eu, no decorrer dos anos. Com a minha maquina de escrever correrei o mundo. O mundo e os cafés. Mas é uma dor no estômago que me acomete. Amanheci escritor, quase poeta ao fim do café da manhã e já me vejo atrasado para trabalhar, o auto-carro vai chegar, é o meu primeiro dia, vendo canais de TV.
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Há 10 anos
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