sábado

Tédio

Hoje choveu rápido e forte. O suficiente para me inundar de tédio. Busco consumi-lo em tragadas de cigarro fortuitas. A chama parece reacendê-lo na intensidade de sua luz. A fumaça que sai de minha garganta seca, escorrega pelo meu rosto com seu cheiro de fim. Olho pela janela e centenas delas se oferecem ao meu olhar. Nada me interessa, nada me estimula a não ser a idéia de sair correndo pelos ares, em busca de um horizonte distante. Janelas vazias e sem graça. Todas as luzes estão apagadas, exceto uma com um senhor sentado na poltrona. Nenhuma luminosidade aparente. Sentado, pernas cruzadas, e a cabeça ereta, olhar fixo. Tenho a impressão de que estejam virados para dentro, procurando em seu mundo algo que o prenda a este. A janela entreaberta parece não significar nada. Na sala, um abajur; a mesa posta, cadeiras fora do lugar sugerem uma presença oculta ou distante. Seus pensamentos escorrem pelo sofá, saindo por seus parcos cabelos que a idade ainda permite. Vejo-os todos e não compreendo-os. O fluxo contínuo dá a impressão de que já vazam pelo corredor afora. Sobem em uma velocidade assustadora, fazem ondas e nada parece demovê-lo. Acompanho seu afogamento perplexo.

Amanhã, uma nota (quiçá): Tédio afoga idoso em Copacabana.

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