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Mais do mesmo

É velho mas está pago!

terça-feira, 2 de novembro de 2004
Mais do mesmo

Ou a cidade ronca II

Não foi fácil começar a escrever. Parei, pensei e nada chega à superfície gelada do papel . Creio que para falar do que somos e, o que é essa nossa sociedade, seja sempre complicado.

Vacinados

Uma sociedade vacinada, petrificada, sem reação e em estado de letargia. Parada à frente da TV. Ou da mesma forma nas ruas. Se o caos é o que nos resta, quero ser então, Winston de George Orwell. Ele sabia, bem lá no fundo, da verdade; mas não pode fazer nada, porque era parte do caos. Mas respirava. Talvez a única saída.
Perdemos a capacidade de olhar. E se olhamos o que percebemos? Aos poucos as doses da vacina ( o veneno em doses pequenas, contínuas, às vezes inutilizado, morto...) Tv – e suas fabulosas miragens – jornais e cia... nos fortalecem. Estamos fortes, já resistimos a tudo.

“Fome: fila circular que só acaba quando o primeiro chegar”

A fome é só a fome e não importa. Importa mesmo são as bolinhas nas calçadas do Leblon, importa criar hospitais para tratar de homossexuais, que “querem a cura para sua doença”. E o resto, empurramos para os morros. Lá só há ronco – o ronco que essa cidade aprendeu a esquecer. E os hipócritas de plantão colam adesivos lindinhos em suas janelas (que encobrem os verdadeiros criadores do caos) o “BASTA!” da zona sul. É lindo “BASTA!” e pronto está tudo bem.

Poderíamos chorar

Chorando talvez estaríamos resistindo, como os que já choram desde o berço. Mas está tudo bem.

É preciso limpar a panela do pão de que nunca teve um

Cena para poucos: comprar frango assado em um domingo. Comprei. Esperei na fila. O funcionário cortava. Na bandeja os restos: gordura, osso picado, farelo de carne... Alguns garotos pedem os restinhos ao funcionário. “ Pode não é do moço aí”. Os restos. Era isso que eles queriam. Eu dei, primeira atitude, por mais ridícula que seja, queria dar mais. Não tive tempo. A fila era grande. Muitos vacinados ao redor. Só deu tempo de congelar, chocar, e ficar mudo ( por mais estranho que pareça talvez aqueles restos podem ser melhores que a ultima refeição deles). Quase fui apedrejado, na verdade fui. Gritaram “ isso é um absurdo”, “esses pivetes”, e o grande final : “ agora tem que limpar a bandeja”, “ limpa logo essa bandeja”.
Perdemos tudo. Perdemos o jogo. Mas a bandeja está limpa. E o ronco silenciado.

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